Definitivamente e sem nenhuma sombra de dúvida, o Dry Martini é o drinque mais famoso do mundo. Apreciado por uma legião de notáveis da realidade e da ficção, a bebida vai muito além do que apenas a mistura de seus pouquíssimos ingredientes.
Não foi pela facilidade em apreciá-lo que esse drinque inventado nos anos vinte em Nova York tornou-se tão popular. Não é qualquer um que gosta de uma bebida extremamente seca, com 47º de teor alcoólico - o vinho tem 13º -, incolor e com cheiro de perfume. Eu gosto, e muito. Talvez o que tenha me conquistado foi sua aparente simplicidade, seu aroma rico como de poucas bebidas (sou péssimo para descrever aromas, mas posso dizer que o do Dry Martini não é um qualquer) e seu sabor inteiro, sem escaramuças. Na verdade eu não gosto, eu adoro.
O Dry Martini de verdade é sempre a união de três componentes, o gim, o vermute seco e a azeitona. Pela receita “oficial”, se é que existe uma, são oito partes de gim para duas de vermute, de preferência Noilly Prat, que devem ser misturados, não batidos, em um copo de vidro alto e cheio de gelo. Depois escorre-se o líquido gelado dentro de uma taça de cristal daquelas cônicas também gelada, coloca-se a azeitona e serve-se imediatamente. Puristas acham que isso é vermute demais, que o Dry Martini deveria ter só a sombra da garrafa de vermute projetada sobre o gim ou apenas algumas gotas sobre o gelo antes de misturar. Mas como tudo que é simples permite leituras e releituras, cada um deve preparar e provar vários para encontrar sua receita favorita. Buñuel coloca todos os ingredientes no congelador um dia antes de preparar o seu e Bond, o James, bate tudo acrescentando vodka.
Já deu para perceber que o gim é quem manda no Dry Martini e em um monte de outros drinques famosos. Gim é um bidestilado de grãos de cereais aromatizado com uma série de vegetais sendo o mais importante o zimbro, as outras são coentro, alcaçuz, amêndoas, laranja e limão. Já dá para ver porque ele tem um aroma tão especial. O vapor do álcool dos cereais passa por esses ingredientes que contribuem com oleosidade, aroma, frescor e a maciez necessárias para fazer um gim de qualidade. Como tantas outras bebidas, ele foi criado como remédio na Holanda - muita gente que prova pela primeira vez ainda acha que é - e desconhece-se quais suas propriedades farmacológicas, mas deve ter curado tanta gente que se tornou bebida popular. Hoje ele é o típico destilado inglês sendo inclusive identificado como London Dry Gin nos melhores rótulos.
Não vou entrar no mérito de quando nem onde o gim foi primeiro usado para fazer um Dry Martini já que além de popular ele é plolêmico, mas posso dar minha opinião sobre onde são os melhores lugares para beber. Aqui no Rio era no Mistura Fina na Lagoa onde o Kaleko ganhou uma bicicleta num concurso usando um borrifador de prata para colocar o vermute na taça e depois fazendo dois furos – fundamental! – na azeitona do Dry Martini que ele preparou lá. Em Barcelona não há melhor lugar para um Dry do que no Mirablau no fim da tarde. Só indo lá para ver, beber e saber o que é.
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